Sobrepeso, alterações posturais, gesto e uso de um material esportivo inadequado são os principais fatores que podem levar a algum tipo de lesão
De todas as lesões no esporte, as mais comuns acometem os membros inferiores. Seja em atletas profissionais, ou naqueles chamados “atletas de final de semana”. Segundo Marcelo Navarro, membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Regional São Paulo (SBOT-SP) e coordenador do Grupo de Trauma do Esporte da Faculdade de Medicina do ABC, ambos os grupos são geralmente acometidos por lesões de sobrecarga ou lesões agudas. “Mas presumimos que os atletas profissionais tenham um corpo mais adaptado para a prática esportiva, o que já não acontece com aqueles que praticam atividades esporadicamente, pois o corpo não está em condições de ser submetido a estresses ou sobrecargas esportivas”, diz ele.
No caso desses atletas, fatores como sobrepeso (que pode levar a uma sobrecarga do corpo), alterações posturais, alterações no gesto esportivo, o uso de um material esportivo inadequado, ou até mesmo a prática esportiva em um ambiente inadequado podem levar a alguma lesão. “Segundo um trabalho de revisão coordenado pela universidade de Burlington (EUA) publicado no British Journal of Sports Medicine, os principais fatores que geram lesões nos atletas podem ser didaticamente divididos em intrínsecos (relacionados ao corpo do atleta) ou extrínsecos (relacionados ao ambiente esportivo que envolve a atividade). Desse jeito, o corpo fica mais suscetível e exposto a sofrer uma lesão se o atleta não estiver fisicamente adaptado ou se praticar atividades físicas com material esportivo inadequado, explica Marcelo.
Considerando os atletas de final de semana ou aqueles que praticam atividades físicas esporadicamente, lesões de sobrecarga comuns são as lesões de cartilagem (como a condromalácia, que é um amolecimento anormal da cartilagem articular), estiramentos musculares (por exemplo, a região posterior da coxa e a região do triceps sural, também conhecida como batata da perna) e tendinopatias (sobrecargas dos tendões).
“Além desses problemas considerados de origem ortopédica, são comuns os problemas da parte clínica e cardiovascular. A pessoa que não está adaptada ao exercício pode sofrer algum tipo de consequência como mal-estar, cefaleia e vômitos, que são alguns dos principais sintomas de desidratação ou de hipoglicemia. Em casos mais graves, o indivíduo está sujeito a infarto, anginas e algumas vezes complicações até mesmo fatais”, acrescenta Navarro.
Por isso, a SBOT-SP recomenda que todos os interessados em começar uma atividade física procurem um profissional habilitado para uma orientação adequada. “Além da adaptação do corpo, a pessoa precisa ser orientada sobre o correto gesto esportivo, como utilizar adequadamente o material esportivo e quais são os fatores que podem levar a uma lesão. Esse tipo de profissional tem que saber lidar com os fatores intrínsecos e extrínsecos. Ou seja, saber adaptar o corpo do paciente para a atividade esportiva escolhida. Os profissionais que estão habituados e habilitados a fazer esse tipo de intervenção são os médicos do esporte, professores de educação física e fisioterapeutas”, acrescenta o ortopedista.
Quanto a escolha de algum tipo de modalidade para começar a se exercitar, Navarro finaliza que não importa. “Se o indivíduo se preparar, ele poderá realizar toda e qualquer tipo de atividade física. Mas é preciso respeitar o corpo, o tempo de adaptação e a realização da atividade em um ambiente adequado”, finaliza Marcelo Navarro.